quarta-feira, 21 de abril de 2010

Universidade no combate a pedofilia no Maranhão


A Universidade desenvolve há dois anos projetos que visam coibir a ação de pedófilos no estado
Fonte: Ascom/UFMA

A violência e o abuso sexual contra crianças e adolescentes crescem a passos largos em todo o território nacional. Os motivos que levam a esse crescimento são a negligência familiar, a falta do controle de informações deste tipo geradas pela internet e a apologia à sexualidade, propagada pelos meios midiáticos. É o que afirma Rosângela Rosa, coordenadora do Programa de Ações Integradas e Referências de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil no Território Brasileiro (PAIR).
Segundo Rosângela Rosa, o Maranhão subiu da sétima para a terceira posição, como estado da Federação, no número de denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. Essa variação levou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Pedofilia) a apurar neste mês de setembro dez casos no Maranhão. “A violência pode ser definida como intrafamiliar, quando a criança é vitimizada por pessoas do seu próprio convívio, ou como extrafamiliar, quando é concretizada fora de casa, como a exploração do turismo sexual [prostituição] e os casos de pornografia”, explica a coordenadora.
Rosângela explica ainda que é possível fazer duas leituras dos indicadores da pedofilia no Maranhão em relação ao aumento de denúncias. A primeira é que o acréscimo nos casos de vitimização de crianças não descarta a violência de ser um fenômeno complexo, multifacetado e associado a outros tipos de violência, como nos casos de famílias que não têm acesso à educação, a políticas de saúde e que negligenciam seus filhos com a falta de tempo para acompanhá-los.
A segunda leitura é a mais acertada, resultado das campanhas realizadas por secretarias de Educação e Saúde de estados e municípios que promovem inúmeros debates relacionados ao tema. Sem falar em outros fatores como a CPI, que vem dando visibilidade ao fenômeno, despertando e levando a sociedade a ter mais entendimento sobre o assunto. “É fundamental que a sociedade não se omita e nem seja conivente com a pedofilia. O serviço de denúncia mantém a identidade do denunciador preservada”, esclarece Rosângela.


Consequências da pedofilia

A UFMA participou diretamente da CPI da Pedofilia dando apoio a senadores membros da comissão, por meio do PAIR. “Quando vemos uma criança de quatro anos relatar [através de psicólogos que reproduzem a fala do menor] que foi estuprada por um adulto de 50 anos não conseguimos acreditar e vamos às lágrimas”, relata Rosângela.

Mudança de comportamento

Quando uma criança é vitimizada, muitas alterações ocorrem no seu comportamento, como: total recuo social e medo de falar e conviver. “As crianças não querem mais ir à escola, têm medo de ser vitimizadas novamente e apresentam sintomas físicos, como a enurese [dificuldade de controlar a urina]”, ressalta.

Universidade atuando

Há dois anos a UFMA desenvolve o PAIR, projeto da Presidência da República que já se estabeleceu em 22 estados brasileiros. Ele tem como objetivo intervir em municípios no sentido de articular e fortalecer as políticas existentes. As pesquisas realizadas pela UFMA visam estudar o fenômeno da violência sexual infanto-juvenil e saber como ela vem se propagando na esfera social.
Atualmente, o projeto está sendo desenvolvido em cinco municípios: São Luís, Caxias, Açailândia, Imperatriz e Timon. “Na segunda fase vamos avançar para mais sete municípios. O trabalho envolve professores, pesquisadores, alunos, a rede de proteção local, Ministério Público, entre outros órgãos”, explica Rosângela.

Além do PAIR, a UFMA possui o Projeto Escola que Protege, que capacita professores e a comunidade escolar para sensibilizar e instrumentalizar o enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes.

A sociedade e a naturalização da violência

Rosângela Rosa ressalta a naturalização da violência: “Todos os dias presenciamos nos jornais mortes e agressões. Isso não nos assusta mais, pois já começa a fazer parte do cotidiano. O que se vem discutindo bastante nesses encontros são o resgate e a humanização das pessoas que lidam diretamente com os casos de violência”.

De acordo com Rosângela, muitos da sociedade (pais, professores etc.) não se dão conta dos casos de vitimização. “Isso ocorre pela falta de tempo de convivência dos pais com os filhos. Muitos pais, por motivo de trabalho, não têm tempo para dar atenção aos filhos. A família está perdendo o seu papel no sentido de identificar e acompanhar suas crianças. Muitas vezes a família joga para a escola a sua responsabilidade”, explica Rosângela.

Sensualidade nos meios de comunicação

Outro ponto a ser destacado é a questão da sensualidade demonstrada nos meios de comunicação. “Por que temos que ter mulheres seminuas nas manifestações culturais?”, indaga Rosângela, que diz que o motivo vem pelo hábito de termos meninas de 5 e 7 anos vestidas com roupas curtas e maquiagem, adiantando a vida adulta delas.

A internet é outro recurso propagador da pedofilia, do qual não temos controle. “Não temos como controlar o tipo de informação que essas crianças estão acessando. A pedofilia se utiliza muito da internet. A pedofilia está estruturada em uma máfia. Existem até símbolos de identificação dos pedófilos. Eles especificam nas próprias páginas símbolos de acordo com a preferência sexual”, explica Rosângela.

Denúncias

A sociedade precisa estar atenta a mecanismos que estão a disposição para denúncia. Para denunciar basta discar 100 ou se dirigir a um dos vários conselhos tutelares espalhados pelas cidades. Também podemos denunciar ligando para o 190, número da polícia. Segundo a coordenadora, a denúncia precisa ser feita mesmo em cima de fatos sob suspeita. “Se você suspeita que uma criança está sofrendo algum tipo de abuso não precisa ter provas. Educadores, professores e vizinhos não são policiais. Eles não têm a competência de investigar. Mas existem órgãos pra isso. O que precisa ser feito é denunciar, mesmo sem ter provas. É melhor denunciar do que omitir, pois os órgãos competentes é que irão investigar e apurar para ver se, por detrás da denúncia, há o crime”, destaca Rosângela.


Notícia divulgada em: 28/09/2009

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